Com personalidade, humildade e uma habilidade para se adaptar ao contexto. Isso é: aprendizagem. Porque o canário, cuja aterrissagem em Mareo foi delicada, foi reajustando as suas ferramentas. Desde o discurso até o estilo de jogo que aplica no Sporting, mais ligado a idiossincrasia da Segunda Divisão, na busca por resultados. Sua relevância para o grupo e para o clube também se fizeram notar. E este é o decálogo de uma metamorfose:
Discurso:Em sua apresentação, sua primeira intervenção pública, usou uma linguagem menos comum. “Sempre falo dos ‘ques’ e dos ‘comos’. Acho que o ‘que’, a essência, se pode manter. Mas os ‘comos’ vão variando”, foi uma das respostas que mais chamaram atenção na sala de imprensa. Com o passar dos meses, adaptou seu discurso, com um estilo mais direto, evitando as confusões.
Capacidade de adaptação:Sua humildade para reconhecer ter “aprendido da categoria” – nada comum para um técnico profissional com bagagem internacional – e capacidade para se adaptar aos recursos que tem à disposição, demonstram jogo de cintura e inteligência. De dizer “gosto de ser dominante e jogar no ataque. Numa guerra prefiro ir com mais soldados que o inimigo”, a mostrar um ponto de pragmatismo para conseguir que sua equipe seja competitiva, mesmo tendo que renunciar ao seu estilo. “Não se trata do que quero, mas sim do que o time e meus jogadores precisam”, admite um técnico que prioriza a equipe.
Estilo de jogo: Além da habilidade em se adaptar à competição e ao seu entorno, Ramírez variou as suas ideias iniciais de jogo: quando chegou, apresentou um estilo de combinações de jogo e perfeccionismo. Conservando parte desta ideia (o Sporting Gijón é o 7º time com maior posse de bola na Liga, com 54,3%, e tendo confiado em jogadores como Nacho Méndez e Roque Mesa), conseguiu montar um time seguro mostrando uma capacidade de adaptação ao rival e a cada momento de jogo.
Comissão técnica: Ramírez não é um treinador autoritário. Na verdade, suas decisões são influenciadas por sua equipe de trabalho, com quem tem uma relação de muita confiança. Cristóbal Fuentes, Luis Piedrahita e Endika Gaviña não são coadjuvantes. Eles têm voz ativa nas decisões.
Gestão de vestiário: Consegue ter autoridade e ser muito empático com os jogadores. Os escuta e abre espaço para que opinem. Sua liderança existe, mas é particular. Não demonstra ter um ego aflorado. Outro ponto chave é que consegue controlar e resolver situações difíceis. Pode baixar as tensões com um peso pesado como Cali, que estava numa situação delicada. Agora é capitão e inclusive lhe deu confiança para falar no vestiário. Também obteve êxito na gestão do complexo caso com Fran Villalba, a quem protege.
Coloca o grupo na frente: O técnico canário está conseguindo encontrar resultados priorizando o grupo, antes das individualidades. Tomou decisões estruturais importantes.
Decisões impopulares:Apesar das críticas que inicialmente foram vinculadas a sua contratação, por sua suposta sintonia com quem manda no clube, deixou de fora Jordan e Jeraldino, apostas do Grupo, por considerar que outros jogadores estavam na frente deles.
Sistema defensivo:Está conseguindo frear a sangria defensiva da temporada 2022-2023, quando acabou com 48 gols tomados e uma sensação de debilidade crescente (na última rodada levaram 4 gols em casa contra a Ponferradina já rebaixada). Nas últimas três rodadas, o Sporting é o segundo time que menos leva chutes no gol. Ele encontrou um triângulo que funciona formado por Yánez, o goleiro, Pier e Insua, os zagueiros. A aposta em Pascanu como lateral, tida como arriscada, trouxe mais solidez defensiva, apesar de perder um pouco da força ofensiva.
Roque Mesa: Roque Mesa: Ter a atenção voltada ao desenvolvimento do mercado e em contato permanente com a direção, foram as chaves para a contratação de Roque Mesa, o que parecia impossível semanas atrás. Sua relação com o meio-campo e a ligação com Las Palmas ajudaram na decisão pelo jogador. Também foi responsável pelo resto dos movimentos, chegando a ligar para falar dos seus objetivos e confiança, e fazer com que vissem o papel que teriam no projeto.
Confiança: Foi capaz de recuperar vários jogadores. O caso mais claro foi de Nacho Méndez, que vinha de uma grave lesão no joelho e que voltou ao seu mais alto nível, desde que foi promovido ao time principal. Mas não foi o único. Gaspar, com dois gols, também está voltando ao nível da época em que foi emprestado ao Burgos. Apostou em ficar com Pablo García. E Otero, que se firmou como um “9”, e lhe deu confiança nessa passagem pelo clube rojiblanco.
